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Um dos países que mais utiliza agrotóxicos no mundo, o Brasil continua adotando uma política permissiva demais para o uso de venenos que contaminam os alimentos. E a contaminação vai além das lavouras. É o que aponta análise feita pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - Idec que identificou herbicidas, como o glifosato, em alimentos ultraprocessados. Salgadinhos, biscoitos, cereais e até pão apresentaram resíduos de agrotóxicos.
O Idec analisou 27 produtos e os dividiu em oito categorias de alimentos e bebidas. Seis delas continham resíduos de agrotóxicos; 59,3% dos produtos desta categoria analisados apresentaram pelo menos um tipo de defensivo agrícola. E 52,8% resíduos de glifosato ou glufosinato.
Tanto os fabricantes quanto a Anvisa já receberan os resultados do estudo. O Idec espera agora que se amplie a testagem de resíduos nos alimentos e se discuta uma regulação melhor do setor. Para informar melhor a população e demais profissionais que atuam na área da saúde, o Idec reuniu os dados da pesquisa e sobre o consumo de agrotóxico no Brasil em uma cartilha que pode ser baixada no site do orgão. O material traz também informações sobre o modelo de agronegócio em vigor no país, os riscos do consumo de agrotóxicos para a saúde pública, meio ambiente e direitos humanos/justiça social. Confira a pesquisa inédita AQUI.
Sobre o glifosato?
Mais de 20 países já proibiram a utilização do glifosato, agrotóxico mais usado do Brasil. A Anvisa renovou o registro do herbicida por tempo indeterminado. No entanto, é bom lembrar que em 2015 uma avaliação da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), apontou o produto como "provável causador" de câncer. Um ano depois, a agência reguladora europeia, EFSA, o considerou seguro para a saúde humana, desde que os resíduos nos alimentos sejam baixos. Ainda assim, a autorização para seu uso no bloco europeu só vale até dezembro de 2022.
A Áustria foi o primeiro país a banir o produto por lá, em 2019, mesmo ano em que o governo alemão definiu cronograma de redução sistemática para bani-lo até o final de 2023. Este caminho também foi adotado pelo México que decidiu no final do ano passado eliminar o uso do agrotóxico até 2024. Costa Rica, Uruguai e Argentina aprovaram limitações no uso do produto.
No Brasil, estudo realizado por pesquisadores das universidades de Princeton, Fundação Getúlio Vargas e Insper revelou recentemente que a propagação do glifosato nas lavouras de soja levou a uma alta de 5% na mortalidade infantil em municípios do Sul e Centro-Oeste que recebem água de regiões sojicultoras. Embora a fabricante do produto discorde da pesquisa, o alerta em outros países sobre ele continua crescendo.
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