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Integralidade de práticas do cuidado: caminhos para ampliar debates em alimentação e nutrição
Postado em 26/03/2024 | fonte - NEXO JORNAL

No Sistema Único de Saúde, a integralidade é um princípio fundamental para que as respostas governamentais, a organização dos serviços e o fazer profissional tenham amplitude suficiente para lidar com a complexidade dos problemas de saúde segundo lógicas mais democráticas, cidadãs e humanizadas (1) .

Dentre os desafios de saúde pública no Brasil, a preponderância da ocorrência de excesso de peso e de doenças crônicas tem sido constatada por diversos inquéritos populacionais (2) , seguindo tendências globais (3). Ao mesmo tempo, investimentos seguem imprescindíveis para a proteção à saúde em âmbito intergeracional, dados os preocupantes indicadores de cuidado pré-natal (4); para a promoção de crescimento e desenvolvimento ótimos desde o início da vida, com destaque para diferenças regionais históricas na expressão das formas de má nutrição (5); e para o enfrentamento de doenças infecciosas e da insegurança alimentar (6), problemáticas exacerbadas pela pandemia de covid-19. Ainda, o espalhamento dos alimentos ultraprocessados nos últimos anos deve ser considerado (7), com concomitante diminuição do acesso a alimentos in natura e minimamente processados. Sabe-se que estes padrões de disponibilidade e de consumo alimentar estão fortemente relacionados com ambientes menos saudáveis e sistemas alimentares baseados em rotas de produção e distribuição de insumos pouco conectadas com aspectos imperativos de sustentabilidade e biodiversidade (8).

Neste panorama, alimentação e nutrição são reconhecidamente determinantes e condicionantes da situação de saúde das pessoas, em meio a condições de vida desiguais no país. Para o avanço da ciência e da atuação profissional na área, é imprescindível ampliar os debates sobre os desafios atuais.

A discussão sobre o cuidado em alimentação e nutrição na perspectiva da integralidade é um caminho potente para articular tais questões, transcendendo visões tradicionalmente fragmentadas em saúde. Com esta perspectiva, os projetos de vida de sujeitos e de coletividades, interconectados pelos diferentes aspectos socioculturais, econômicos, ambientais e políticos que influenciam a alimentação e a nutrição, podem ser aliados à produção de evidências científicas devidamente contextualizadas. Isto é premente para fortalecer a construção da prática profissional e a organização de serviços de saúde e de equipamentos de segurança alimentar e nutricional, privilegiando lógicas mais colaborativas de trabalho. Ainda, alavanca o delineamento de políticas públicas interessadas em proporcionar o acesso equitativo a alimentos saudáveis com apoio à produção sustentável e à criação de ambientes favoráveis à saúde, bem como a regulamentação e o manejo de obstáculos para práticas alimentares adequadas.

Promovido bianualmente pela ASBRAN (Associação Brasileira de Nutrição), em 2024 o Congresso Brasileiro de Nutrição – CONBRAN enseja contribuir incisivamente nesse sentido e apresenta como tema central “Alimentação e Nutrição na perspectiva da integralidade das práticas do cuidado”. Visando a efeitos técnico-científicos duradouros, sua 28ª edição traz a iniciativa inédita de organizar sua programação científica em cinco eixos temáticos estratégicos, com a missão de induzir a compreensão ampliada das demandas e incidir de maneira mais transversal sobre a área. Estes eixos temáticos são:

Sistemas e ambientes alimentares, debatendo a produção e o acesso a alimentos, além de estratégias de enfrentamento e inovação que incluam alternativas agroecológicas, saberes tradicionais, e regulação de determinantes comerciais;

Alimentação coletiva e segurança alimentar e nutricional, para impulsionar espaços institucionais de alimentação na direção da superação de iniquidades e da promoção do bem-estar da população, contando com estratégias intersetoriais;

Modos de vida, padrões alimentares e repercussões à saúde, problematizando a análise da situação alimentar e nutricional no país com a compreensão de desigualdades sociais cruciais, como as de classe, gênero e raça;

Cuidado alimentar e nutricional e prática clínica, a fim de discutir saberes técnicos atualizados para cenários plurais de prática clínica que favorecem a escuta qualificada das necessidades de saúde das pessoas; e

Processos de formação em alimentação e nutrição, comprometidos com o preparo ético, generalista, colaborativo e inclusivo na área, com crítica a relações de poder históricas e valorização da educação alimentar e nutricional.

Conferências, debates e mesas redondas do CONBRAN 2024 podem ser consultadas em detalhe aqui. É válido salientar que todas as atividades do congresso são desenvolvidas observando a inovadora política da ASBRAN para coibir conflitos de interesse (9) , contando com o apoio financeiro de agências de fomento à pesquisa, conselhos de classe, e órgãos ministeriais e da sociedade civil. Esta abordagem resguarda este espaço de formação do financiamento espúrio pela indústria de alimentos e bebidas e outras entidades cujas práticas ferem preceitos de alimentação adequada e saudável.


Convidamos pesquisadores, profissionais, acadêmicos, gestores e tomadores de decisão para construir este evento, entre 21 e 24 de maio de 2024, em São Paulo. Com estes compromissos alicerçados e o entendimento sobre saúde e alimentação como direitos indissociáveis, o CONBRAN 2024 espera fomentar o franco intercâmbio de conhecimentos técnicos, políticos e socioculturais em alimentação e nutrição, para a urgente produção de soluções sistêmicas no campo.


Bárbara Hatzlhoffer Lourenço é professora doutora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e presidente da Comissão Científica do CONBRAN 2024.

Ruth Cavalcanti Guilherme é professora doutora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco e presidente da Associação Brasileira de Nutrição, coordenando a Comissão Executiva do CONBRAN 2024. 


1. Pinheiro R. Integralidade em saúde. In: Pereira IB, Lima JCF. Dicionário da educação profissional em saúde. 2ª Ed. Rio de Janeiro: EPSJV; 2008.

2. Painel de Dados "Mortalidade por Regiões de Saúde brasileiras" - https://gbdbr.com.br/painel-de-dados/

3. Murray CJ, et al. Global burden of 87 risk factors in 204 countries and territories, 1990-2019: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2019. Lancet. 2020; 396: 1223-49.

4. Observatório Obstétrico Brasileiro. Painéis OOBR.

5. Kac G, et al. Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil: evidências para políticas em alimentação e nutrição. Cadernos de Saúde Pública. 2023; 39 (Supl. 2): e00108923.

6. Soberania e Segurança Alimentar. II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil. Relatório final. São Paulo; 2022.

7. Levy RB, et al. Três décadas da disponibilidade domiciliar de alimentos segundo a NOVA – Brasil, 1987–2018. Revista de Saúde Pública. 2022; 56: 75.

8. High Level Panel of Experts on Food Security and Nutrition (HLPE). Nutrition and food systems: A report by the High Level Panel of Experts on Food Security and Nutrition of the Committee on World Food Securit. Rome; 2017.

9. Portarias ASBRAN nº 2. Disponível aqui. E nº 3. Disponível aqui

 

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